sexta-feira, 25 de março de 2016

O CRISTÃO PODE PARTICIPAR DE MANIFESTAÇÕES?



(Por Rafael Aguiar Pereira)

Muitos cristãos sinceros, devido ao que vem ocorrendo em nosso país nestes últimos dias, estão se perguntando se podem ou não participar de manifestações públicas contra um determinado governo. Mas afinal, nós, cristãos, podemos fazer parte de manifestações populares? A Bíblia proíbe o cristão de sair às ruas e de protestar contra o Governo?
Antes de tudo, vejamos, primeiramente, o conceito da palavra protestar. Segundo o dicionário, significa: "Manifestar insatisfação, discordância, revolta. 2. Realizar manifestação pública de protesto. 3. Clamar, bradar por...". Em suma, protestar é declarar publicamente insatisfação contra algo, alguém ou um sitema.
De posse do conceito desta palavra, vamos agora considerar a primira pergunta:
1. O cristão pode fazer parte de manifestação e de protestos populares?
Vamos responder a esta importante pergunta em duas vias: A primeira, do ponto de vista da Lei (A), e a segunda, do ponto de vista bíblico-espiritual (B).
A) Do ponto de vista legal, isto é, de acordo com as leis que regem a nossa nação, devemos considerar que vivemos em um Estado democrático de direito, e não em uma ditadura, ou seja, vivemos num regime onde o poder político emana do povo e visa o bem-estar desse povo, ainda que quem governe não seja diretamente os cidadãos que formam esse povo, mas seus representantes, eleitos através de livre escolha, por meio de voto direto e secreto.
Sendo assim, todos os que vivem sob o Regime Democrático tem o direito legal (amparado pela Constituição) de manifestar sua insatisfação quando não forem atendidos por seus representantes (os governantes) em suas necessidades básicas, tais como saúde, educação, moradia, trabalho, lazer etc, as quais lhes são garantidas por esta mesma Constituição.
Nenhum cidadão brasileiro, portanto, estará infringindo a Lei quando estiver manifestando publicamente, através de protestos individuais ou em grupo, inclusive nas redes sociais, a sua insatisfação e indignação contra aquilo que considera inaceitável no que diz respeito ao trato e ao cuidado recebidos por seus governantes. No entanto, não se deve confundir protesto e manifestação (direitos que nos são assegurados pela Lei) com atos de violência (física e/ou verbal), de vandalismo, de depredação de patrimônio público e/ou privado, além da prática de calúnia e de difamação que alguns cometem, inclusive pelas redes sociais, durante suas manifestações e protestos, os quais se configuram atos criminosos, e quem comete crime infringe a Lei, e quem infringe a Lei, neste sentido, comete pecado! E esta forma de protesto e de manifestação, que infringe a Lei, não só os cristãos devem evitar, mas todo e qualquer cidadão brasileiro, independente de sua religião.
Fica entendido, então, que toda manifestação e todo protesto só estarão resguardados pela Lei enquanto forem pacíficos. Portanto, todo cidadão brasileiro, inclusive nós, os cristãos, do ponto de vista legal, pode sim expressar insatisfação por meio de protestos públicos, seja individualmente ou em grandes ajuntamentos de populares, sem que haja nenhum receio de estarem infringindo a Lei da nação e, por consequência, pecando contra Deus, desde que estas manifestações e protestos sejam pacíficos e visem o bem comum do povo, bem como a manutenção da paz e da ordem na sociedade em que se vive. Fica claro, então, que, do ponto de vista da Lei brasileira, o cristão, assim como todo cidadão brasileiro, pode realizar manifestações e protestos públicos para exigir o cumprimento de seus direitos perante a Constituição, desde que tais manifestações sejam pacíficas e não incorram em infração desta Lei e, por consequência, na prática de crimes.
B) Mas e do ponto de vista estritamente bíblico-espiritual? Deus proíbe o cristão de protestar contra os governantes? O que a Bíblia diz sobre isso?
Muitos citam o textos de Romanos 13.1-2, para afirmarem que, apesar de lícito perante a Lei, Deus proíbe o cristão de protestar contra os governantes. Vejamos o que diz o texto:
"Cada qual seja submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que não venha de Deus; as que existem foram instituídas por Deus. Assim, aquele que resiste à autoridade, opõe-se à ordem estabelecida por Deus; e os que a ela se opõem, atraem sobre si a condenação." (Rm.13.1-2).
Em uma análise superficial desse texto, parece-nos mesmo que o apóstolo Paulo está condenando toda e qualquer manifestação contra todo e qualquer tipo de governo. Porém, se analisarmos o contexto, perceberemos (1) que Paulo está se referindo, primeiramente, ao princípio da autoridade, isto é, a autoridade em si, independente do agente que exerça esta autoridade. O Governo, seja ele Federal, Estadual ou Municipal, é uma autoridade estabelecida por Deus para o bem dos homens, e será sempre uma autoridade independente dos seus representantes. Os governantes mudam, mas o princípio de toda autoridade permanece, pois tem origem em Deus! Mas no que se refere aos próprios governantes (2), versículos seguintes em Romanos 13, Paulo fala de governos que prezam pela justiça e pela paz, ou seja, ele se refere aos bons governantes, aos quais devemos nos submeter, pois eles são instrumentos de Deus para combater o mal na sociedade. Veja o que diz o versículos 3 e 4:
"Em verdade, as autoridades inspiram temor, não porém a quem pratica o bem, e sim a quem faz o mal! Queres não ter o que temer a autoridade? Faze o bem e terás o seu louvor. Porque ela é instrumento de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, porque não é sem razão que leva a espada: é ministro de Deus, para fazer justiça e para exercer a ira contra aquele que pratica o mal." (Romanos 13.3-4).
Observe que agora o apóstolo Paulo diz que a autoridade "... é instrumento de Deus para teu bem" e que também é "ministro de Deus para fazer justiça", ou seja, é a esse governo e a essa autoridade, que visa o bem de uma sociedade e que promove a paz e a justiça, que devemos nos submeter sem nenhum temor, pois que zelam pelo bem comum do povo, e quem não se submete a esse tipo de governo e de autoridade está contra a paz, contra a justiça e contra o bem comum da sociedade! Essa insubmissão é diabólica e contrária a ordem estabelecida por Deus. Mas, e quando os governantes e as autoridades estiverem a serviço do Mal, não primarem pela paz e pela justiça, não respeitarem seus cidadãos, não honrarem seu povo e ainda atacarem a fé cristã? Será que devemos continuar sujeitos, cegamente, a essas autoridades? Apesar de Paulo ter dito que "não há autoridade que não venha de Deus", isso nao significa que todo governante que faz uso da autoridade procede de Deus. Isso fica claro no versículo 6, quando Paulo diz que: "É também por essa razão que pagais os impostos, pois os magistrados são ministros de Deus, quando exercem pontualmente esse ofício.". Veja que o apóstolo ressalta que os magistrados (os governantes e as autoridades) são ministros de Deus enquanto exercerem seus ofício pontualmente, isto é, enquanto forem fiéis as leis, sem escândalos, sem corrupções, sem desvios de conduta, sem mentiras, enquanto priorizarem o bem-estar do povo e enquanto zelarem pela paz e pela justiça e respeitarem os direitos dos seus cidadãos!
2. Onde deve ser o maior protesto e manifestação do cristão?
A Palavra de Deus nos adverte que a nossa verdadeira luta, isto é, nosso maior protesto e manifestação deve ocorrer, antes de tudo, no campo espiritual: "Pois não é contra carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal nos ares." (Efésios 6. 12) e que, por isso mesmo, as nossas armas também não são carnais, mas espirituais: "Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas" (2Co.10.4). Sendo assim, o apóstolo Paulo, nos diz: "Acima de tudo, recomendo que se façam deprecações, orações, súplicas, ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, para que possamos viver uma vida calma e tranqüila, com toda a piedade e honestidade. Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador" (1Tm. 2.1-3). Por causa disso, muitos ignoram que Satanás se utiliza de pessoas, de leis e de sistemas (como a política, por exemplo. Não que a politica seja do diabo!) para atacar a Igreja e os cristãos! E nós, cristãos que somos, tendo este conhecimento, devemos nos munir de todas as armaduras espirituais que o Espírito Santo nos disponibiliza, conforme está escrito em Efésios 6.10-18 (Leia o texto!), para vencermos estas batalhas contra as trevas, assim como estarmos prontos para resistimos a toda investidida do mal que podem vir contra nós através de governantes influenciados pelo maligno! Essa resistência contra o Maligno, no entanto, deve ser travada tanto no campo estritamente espiritual (através da oração, do jejum, da santificação pessoal e coletiva, da leitura e prática da Palavra de Deus). Mas isso não nos isenta de também agirmos nos demais campos da esfera humana, as quais não excluem a esfera espiritual, tais como no social (combatendo toda violência fisica e verbal, e promovemdo a paz e a justiça, por exemplo) e no campo da politica (escolhendo bem os nossos representantes e reprovando todo tipo de comportamento corrupto e corruptor, por exemplo).
3. Exemplos de governos que agiram sob influência maligna contra o povo de Deus
A Bíblia e a história nos mostram vários governantes e sistemas de governo que agiram sob influência maligna para atacar o povo de Deus. Citaremos agora apenas alguns exemplos:
a) Faraó e seu Império Egípcio, que oprimiu os hebreus por anos (Êxodo 1);
b) Os filisteus, que oprimiram Israel por vários anos (Juízes 13);
c) Nabucodonosor e seu Império babilônico, que destruiu Jerusalém e escravizou seus moradores (Jeremias 39; Daniel 1-4);
d) Herodes, o Grande, que, perseguindo o menino Jesus, mandou matar todas as crianças de até dois anos que habitavam em Jerusalém (Mateus 2.16);
e) Herodes (outro na linhagem sucessória dos Herodes), Pôncio Pilatos e as autoridades religiosas de Jerusalém que condenaram Jesus à morte (Mateus 26-27);
f) O Sinédrio, que perseguiu os apóstolos e que matou alguns deles (Atos 4.1-31; 5.17-42; 7.54-60; 12.1-5)
g) Imperadores romanos que perseguiram e mataram em suas arenas milhares de cristãos fiéis a Jesus;
h) Autoridades da igreja romana, que, no período conhecido na história como Idade das Trevas, matou milhares de cristãos fieis a Deus;
i) Hittler e o seu nazismo alemão que matou mais de 6 milhões de judeus;
j) Terroristas modernos que já dizimaram milhares de cristãos em várias partes do mundo! Há muitos outros exemplos!
Fica claro, pelo exposto acima, que, apesar de que todo princípio de autoridade procede de Deus, nem todos os governantes, que fazem uso dessa autoridade legítima, necessariamente vem de Deus! Aliás, podem até ter procedência maligna, como acabamos de demontrar em exemplos acima.
4. Agora vejamos alguns exemplos na Bíblia e na história de quem se manifestou, protestou e resistiu publicamente ao mal:
a) Moisés resistiu a faraó e protestou contra as ordens do soberano egípcio (Êxodo 10.14-26);
b) Elias protestou e resistiu ao rei Acabe, por causa dos pecados dele e de sua esposa Jezabel (1Reis 18.17-18, 21; 21.17-26);
c) Neemias resistiu e protestou contra a opressão e contra os opressores do povo de Deus (Neemias 5; 13);
d) A rainha Ester e o povo judeu protestaram e resistiram contra a ameaça de sua própria destruição (Ester 7.1-6; 9.1-3)
e) Ananias, Misael, Azarias (Mesaque, Sadraque e Abedenego), mesmo correndo risco de morte, resistiram e protestaram contra a idolatria de Nabucodonosor e da Babilônia (Daniel 3);
f) Daniel resistiu (orando) e protestou (abrindo as janelas do seu quarto enquanto orava) contra o edito do rei medo-persa que o proibia de orar a Deus por trinta dias (Daniel 6.10);
g) João, o Batista, protestou contra os erros dos religiosos e do rei Herodes, que estava adulterando com Herodias, mulher de seu irmão Filipe (Lc.3.1-20)
h) Até o próprio JESUS protestava frequentemente contra as autoridades religiosas dos judeus, chamando-os de hipócritas e de mentirosos, como também protestou contra Herodes, chamando-o de raposa e protestou ainda contra a própria cidade de Jerusalém que o havia rejeitado! (Mateus 15.1-14; Lucas 13.32, 34-35);
i) Pedro e João resistiram e protestaram contra o sinédrio que os queria proibir de falar no nome de Jesus e de ensinar a Sua Doutrina (Atos 4.17-20);
g) Paulo protestou contra as autoridades que o acusavam falsamente e fez um manifesto público individual que desejava ser julgado diretamente por Cesar; em outra ocasião, ele fez valer a sua cidadania romana quando protestou contra os soldados que o açoitavam sem que antes lhe tivessem dado direito a um julgamento digno de um cidadão romano, tal como ele era! (Atos 9.22-29; 25.7-12)
j) Vários homens e mulheres ficaram conhecidos na história da Igreja como heróis da fé porque resistiram e protestaram contra o mal, contra o pecado, contra o diabo e contra todos os seus agentes e representantes (governantes sob influência maligna) aqui neste mundo! Foi por este ato de protestar, que a Igreja evangélica ficou conhecida no período da Reforma, como Igreja Protestante!
l) O Pr. Martin Luther King (1929-1968) resistiu e protestou contra a discriminação e a segregação racial nos Estados Unidos.
Além destes, há ainda muitos outros exemplos na Bíblia e na História de homens e de mulheres que, diferentemente de nós, não viveram em uma Democracia ondectinham seus direitos de manifestação protegidos por lei, mas que, mesmo arriscando suas vidas ousaram protestar e resistir contra todo o Mal!
Concluímos que o cristão, respaudado pela Lei brasileira e pelas Escrituras Sagradas, assim como pelo testemunho da história da igreja, pode e deve sempre protestar, sem violência, mas de forma pacífica e visando o bem comum, munido de toda armadura espiritual proveniente de Deus, como também pode a deve fazer uso dos meios legais, para combater tudo o que for mau, toda injustiça, todos os desmandos de governantes sem escrúpulos, imorais e sem apreço pelo bem-estar do povo e sem interesse nenhum na manutenção da boa ordem, da paz e da justiça e que querem tolher a fé cristã, subjugando o seu exercício prático na vida cotidiana de cada cristão!
(Por Rafael Aguiar Pereira)

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