sexta-feira, 25 de março de 2016

O CRISTÃO PODE JULGAR?


Muitos cristãos sinceros creem que não se deve emitir nenhum tipo de julgamento que condene qualquer prática dos homens. Os que assim afirmam baseiam-se no fato de que somente Deus conhece o coração dos homens e que, por essa razão, somente ELE pode julgar suas ações. Mas será esse o entendimento correto que todo cristão deve ter sobre esse assunto? A Bíblia proíbe o cristão de julgar as pessoas e às suas práticas? Afinal, o cristão pode ou não exercer julgamento?
Segundo os nossos dicionarios de língua portuguesa, Julgar significa: "1.Decidir, resolver como juiz ou como árbitro, lavrar ou pronunciar sentenças. 2. Pronunciar uma sentença. 3. Apreciar, avaliar, formar juízo a respeito. 4. Formar juízo crítico acerca de. 5. Formar conceito sobre alguém ou alguma coisa.". Diante dessas definições, podemos entender que julgar significa o ato de decisão tomado por alguém ou por um conselho acerca de algo, de alguém e/ou de práticas previamente avaliados com base na lei, na ética e na moral que rege um povo. Em nosso caso (os cristãos), a ética e a moral que nos regem procedem, não apenas da Lei de nosso país, mas, e principalmente, das Escrituras Sagradas, a nossa regra de fé e prática, a Lei de Deus para nós, o Seu povo.
Antes de entrarmos no mérito da permissão ou da proibição do cristão sobre a prática do julgamento, é importante ressaltar que o julgamento aqui em questão não se trata do julgamento que condena o homem definitivamente ao inferno e ao Lago de fogo, pois esse julgamento pertence única e exclusivamente a Deus e a Cristo Jesus, o nosso Senhor, já que tal julgamento depende da onisciência do Senhor sobre a situação da alma do homem no momento de sua morte em relação a fé na Obra Expiatório de Cristo Jesus na cruz! Trataremos, neste artigo, do julgamento das ações e atitudes dos homens enquantos seres ativos, capazes e responsáveis por suas ações nesta vida.
1."Não julgueis, para que não sejais julgados" (Mt.7.1)
Muitos citam o texto acima, de Mt. 7.1, para apoiarem a posição de que o cristão não pode julgar as ações de ninguém. Porém, devemos ler o texto dentro do seu contexto, pois é assim que se faz uma correta interpretação do mesmo. Quando Jesus disse "Não julgueis, para que não sejais julgados", Ele estava se referindo ao julgamento baseado na falsidade e hipocrisia, tipicas dos fariseus, que apontavam os erros e os defeitos do povo, mas que eles mesmos praticavam coisas semelhantes ou até piores! Era esse tipo de julgamento que Jesus estava condenando. Veja que o próprio Jesus autoriza julgarmos os erros alheios, desde que não estejamos realizando as mesmas práticas as quais estamos condenando: "Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão." (Mt. 7.4-5)! Ou seja, Jesus está reprovando a hipocrisia de alguém que julga os erros dos outros, mas que vive na prática de erros iguais e até de outros mais graves (Uma trave é maior que um argueiro!). Observe que Jesus conclui dizendo: "(...) então cuidarás em tirar o argueiro do olho de teu irmão". Isso significa, não que estamos proibidos de julgar, mas que antes de julgarmos as ações dos outros, devemos primeiramente julgar e corrigir nossas eventuais falhas e erros, para então podermos exercer um correto julgamento das atitudes alheias, baseado na justiça da Palavra de Deus, que condena todas as práticas errôneas e pecaminosas dos homens, sejam elas consideradas "grandes" (as traves) ou "pequenas" (os argueiros), estejas elas nos outros ou em nós mesmos!
Fica claro, portanto, que Jesus, no texto em apreço, não está nos proibindo de julgarmos os erros e pecados dos outros, mas condenando o julgamento hipócrita, ao tempo em que nos ensina como julgar corretamente, com base na justiça e na verdade de Sua Palavra!
2. A Bíblia tem vários exemplos de servos de Deus que exerceram o julgamento de forma correta. Vejamos alguns:
A) Salomão - Na ocasião da disputa entre as duas mulheres que diziam ser a legítima mãe de uma criança, Salomão julgou corretamente que uma delas era mentirosa e que a outra falava a verdade! (1Rs. 3. 23-28)
B) O profeta Elias - Este homem de Deus julgou que o povo estava inseguro e indeciso quanto a quem serviriam, se a Deus ou se a Baal: "Então Elias se chegou a todo o povo, e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu.". (1Rs.18.21)
C) O apóstolo Paulo julgou que o corpo de um certo "irmão", que frequentava a Igreja de Corinto e estava praticando um determinado tipo de pecado sexual na igreja, deveria ser entregue a Satanás: "Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja, este tal, entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus." (1Co. 5. 3-5).
Paulo ainda reprovou a igreja de Corinto, dentre outras deficiências, por não haver ninguém dentre eles que pudesse julgar os litígios entre os irmãos, e condenou a atitude de levar problemas internos da igreja aos tribunais dos ímpios: "Para vos envergonhar o digo. Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos? Mas o irmão vai a juízo com o irmão, e isto perante infiéis." (1Co. 6. 5-6).
D) O apóstolo João julgou que Diótrefes era caluniador e mentiroso: "Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe. Por isso, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja." (3Jo.9-10)
E) O próprio Jesus julgou que os fariseus eram hipócritas e maus: "Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca." (Mt.12.34)
"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos" (Mt.23.26-29).
3. A Bíblia nos ensina a julgar corretamente.
A) Jesus disse: "Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore." (Mt. 12. 33). Ou seja, jugamos uma árvore como boa pelos frutos bons que ela nos apresenta, assim como julgamos uma árvore como má pelos frutos maus que ela nos oferece! Assim também para com as práticas dos homens!
B) As Escrituras nos dizem que nós julgaremos o mundo, e que, portanto, devemos está aptos para também julgar as pequenas coisas erradas do tempo presente: "Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas?" (1Co.6.2)
C) As Escrituras nos dizem que nós julgaremos os anjos caídos e que devemos estar prontos para também sermos capazes de julgar as coisas desta vida: "Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?" (1Co.6.3)
D) As Escrituras nos ordenam a julgar e aprovar as obras que agradam a Deus, assim como também a julgar e condenar toda obra das trevas:  "Aprovando o que é agradável ao Senhor. E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as." (Ef. 5. 10-11).
E) As Escrituras nos ordena a julgar inclusive as profecias para saber se procedem de Deus: "Falem dois ou três profetas e os outros julguem" (1Co.14.29)
Portanto, o cristão deve sim julgar toda prática pecaminosa e todos os erros denunciados nas Escrituras Sagradas, sempre com base na retidão e na justiça reveladas na Palavra de Deus que é a nossa regra de fé e prática, e que nos serve como prumo, que revela toda a falha da construção de nossa conduta e que nos corrige e que também nos ensina a como remover a trave dos nossos erros e pecados, capacitando-nos assim a também remover o argueiro dos desvios de conduta que impedem os nossos semelhantes de enxergar o pecado, a Justiça e o Juizo!
Por: Rafael Aguiar

Nenhum comentário:

Postar um comentário